nem frio, nem calor: apenas o cheiro de Jasmim, 2019
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A TERRA DA ONÇA PRETA
Jaguaruana, cidade cearense do Vale do Jaguaribe, tem nome indígena, do tupi-guarani, significando onça preta. Para além desta bela palavra, que a identifica, o município traz um importante elemento, eminentemente indígena, encravado em sua história, sua economia e sua cultura, sendo esse um dos mais valiosos produtos característicos da região nordeste do Brasil: a rede. De tão marcante na vida da cidade, Jaguaruana passou a ser conhecida como a capital ou a terra da rede, ganhando tal objeto um importante destaque como meio de produção e de subsistência da população. Fundada em 1865, Jaguaruana está situada a 186 km de Fortaleza, capital do estado, e sua população é estimada, hoje, em 32.239 habitantes. As redes, dada sua relevância, aparecem no brasão da cidade e são cantadas em seu hino:
Nos teus campos o branco se agita
No teu seio a cultura se evolui
Na tua margem, no espelho das águas
A visão de um novo mundo
Tuas palmeiras que o vento balança
E tuas redes são nossa esperança.
Se procurarmos em suas origens, veremos que os primeiros textos conhecidos após o chamado descobrimento do Brasil, escritos pelos portugueses, franceses, holandeses e alemães, que na América estiveram no Século XVI, tais como a Carta de Pero Vaz de Caminha, de 1500, já faziam referência à presença da rede, como objeto da vida cotidiana dos indígenas. Essa carta significa o reconhecimento histórico da presença da rede e de suas funções. Outros preciosos escritos da época também a ela se referem:
... em lugar de cama, usa a máxima
parte dos índios de uns panos
tecidos à maneira de rêde,
suspensos por duas cordas e traves...
(Padre José de Anchieta, 1554)
A rede é, portanto, anterior à chegada dos colonizadores portugueses, tendo origem muito antiga, um tanto indeterminada. Utilizada para ninar, descansar e dormir, a rede era usada, também, para envolver os corpos e enterrar os mortos. É possível perceber, portanto, seu valor na história e na vida dos povos indígenas, servindo de aconchego em vida e de amparo na morte. A rede guarda em si um inestimável valor cultural e afetivo, sendo um verdadeiro patrimônio nordestino. Ela é aquela que acolhe, relaxa, envolve e inebria com seu abraço, sendo lugar reservado ao aconchego, ao descanso, ao sono e aos sonhos de um povo.
Há certa diversidade no modo de confeccionar as redes, dependendo da região e dos grupos sociais, mas houve forte predominância das fábricas de redes com teares de madeira - por eles, os jaguaruanenses, teares de pau ou batelão - bastante utilizados, durante muito tempo, na cidade de Jaguaruana.
Referências
CASCUDO, Câmara. Rede de Dormir. MEC (1957), 2a edição 1959. FUNARTE/UF RN, 1983.
PESSOA, Isimar Félix. Arranjo produtivo de redes em Jaguaruana como apoio para o desenvolvimento local. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, Curso de Graduação em Ciências Econômicas (Monografia), 2003.
OLIVEIRA, Sheila. Redes de dormir. Fortaleza: D’artista Editora, 2012.
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/cores-punhos-e-varandas-1.602454
https://www.jaguaruana.ce.gov.br
Brasilidade – A História da rede de dormir https://youtu.be/ccJj46b9rog
Jaguaruana e as redes de dormir, 120 anos https://youtu.be/Y6M8nDrEyq8